18 janeiro 2012



Guia Prático da NOVA ORTOGRAFIA






Saiba o que mudou na ortografia brasileira




Versão atualizada de acordo com o VOLP










por Douglas Tufano




(Professor e autor de livros didáticos de língua portuguesa)










O objetivo deste guia é expor ao leitor, de maneira objetiva, as alterações introduzidas na ortografia da língua portuguesa pelo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990, por Portugal, Brasil, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e, posteriormente, por Timor Leste. No Brasil, o Acordo foi aprovado pelo Decreto Legislativo no 54, de 18 de abril de 1995.










Esse Acordo é meramente ortográfico; portanto, restringe-se à língua escrita, não afetando nenhum aspecto da língua falada. Ele não elimina todas as diferenças ortográficas observadas nos países que têm a língua portuguesa como idioma oficial, mas é um passo em direção à pretendida unificação ortográfica desses países.










Este guia foi elaborado de acordo com a 5.ª edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), publicado pela Academia Brasileira de Letras em março de 2009.




Mudanças no alfabeto




O alfabeto passa a ter 26 letras. Foram reintroduzidas as letras k, w e y. O alfabeto completo passa a ser:










A B C D E F G H I J




K L M N O P Q R S




T U V W X Y Z




As letras k, w e y, que na verdade não tinham desaparecido da maioria dos dicionários da nossa língua, são usadas em várias situações. Por exemplo:










a.na escrita de símbolos de unidades de medida: km (quilômetro), kg (quilograma), W (watt);




b.na escrita de palavras e nomes estrangeiros (e seus derivados): show, playboy, playground, windsurf, kung fu, yin, yang, William, kaiser, Kafka, kafkiano.




Trema




Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue, gui, que, qui.










Como era Como fica




agüentar aguentar




argüir arguir




bilíngüe bilíngue




cinqüenta cinquenta




delinqüente delinquente




eloqüente eloquente




ensangüentado ensanguentado




eqüestre equestre




freqüente frequente




lingüeta lingueta




lingüiça linguiça




qüinqüênio quinquênio




sagüi sagui




seqüência sequência




seqüestro sequestro




tranqüilo tranquilo










Atenção: o trema permanece apenas nas palavras estrangeiras e em suas derivadas. Exemplos: Müller, mülleriano.










Mudanças nas regras de acentuação




1. Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima sílaba).










Como era Como fica




alcalóide alcaloide




alcatéia alcateia




andróide androide




apóia (verbo apoiar)apoia




apóio (verbo apoiar)apoio




asteróide asteroide




bóia boia




celulóide celuloide




clarabóia claraboia




colméia colmeia




Coréia Coreia




debilóide debiloide




epopéia epopeia




estóico estoico




estréia estreia




estréio (verbo estrear) estreio




geléia geleia




heróico heroico




idéia ideia




jibóia jiboia




jóia joia




odisséia odisseia




paranóia paranoia




paranóico paranoico




platéia plateia




tramóia tramoia










Atenção:




essa regra é válida somente para palavras paroxítonas. Assim, continuam a ser acentuadas as palavras oxítonas e os monossílabos tônicos terminados em éis e ói(s). Exemplos: papéis, herói, heróis, dói (verbo doer), sóis etc.










2. Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no u tônicos quando vierem depois de um ditongo.










Como era Como fica




baiúca baiuca




bocaiúva bocaiuva*




cauíla cauila**




* bacaiuva = certo tipo de palmeira




**cauila = avarento




Atenção:










a.se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos: tuiuiú, tuiuiús, Piauí;




b.se o i ou o u forem precedidos de ditongo crescente, o acento permanece. Exemplos: guaíba, Guaíra.




3. Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem e ôo(s).










Como era Como fica




abençôo abençoo




crêem (verbo crer) creem




dêem (verbo dar) deem




dôo (verbo doar) doo




enjôo enjoo




lêem (verbo ler) leem




magôo (verbo magoar) magoo




perdôo (verbo perdoar) perdoo




povôo (verbo povoar) povoo




vêem (verbo ver) veem




vôos voos




zôo zoo










4. Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/para, péla(s)/pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera.










Como era Como fica




Ele pára o carro. Ele para o carro.




Ele foi ao pólo Norte. Ele foi ao polo Norte.




Ele gosta de jogar pólo. Ele gosta de jogar polo.




Esse gato tem pêlos brancos. Esse gato tem pelos brancos.




Comi uma pêra. Comi uma pera.










Atenção:










- Permanece o acento diferencial em pôde/pode. Pôde é a forma do passado do verbo poder (pretérito perfeito do indicativo), na 3ª pessoa do singular. Pode é a forma do presente do indicativo, na 3ª pessoa do singular.




Exemplo: Ontem, ele não pôde sair mais cedo, mas hoje ele pode.










- Permanece o acento diferencial em pôr/por. Pôr é verbo. Por é preposição. Exemplo: Vou pôr o livro na estante que foi feita por mim.










- Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter, reter, conter, convir, intervir, advir etc.). Exemplos:




Ele tem dois carros. / Eles têm dois carros.




Ele vem de Sorocaba. / Eles vêm de Sorocaba.




Ele mantém a palavra. / Eles mantêm a palavra.




Ele convém aos estudantes. / Eles convêm aos estudantes.




Ele detém o poder. / Eles detêm o poder.




Ele intervém em todas as aulas. / Eles intervêm em todas as aulas.










- É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as palavras forma/fôrma. Em alguns casos, o uso do acento deixa a frase mais clara. Veja este exemplo: Qual é a forma da fôrma do bolo?










5. Não se usa mais o acento agudo no u tônico das formas (tu) arguis, (ele) argui, (eles) arguem, do presente do indicativo dos verbos arguir e redarguir.










6. Há uma variação na pronúncia dos verbos terminados em guar, quar e quir, como aguar, averiguar, apaziguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir etc. Esses verbos admitem duas pronúncias em algumas formas do presente do indicativo, do presente do subjuntivo e também do imperativo. Veja:










a.se forem pronunciadas com a ou i tônicos, essas formas devem ser acentuadas.




Exemplos:




verbo enxaguar: enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue, enxágues, enxáguem.




verbo delinquir: delínquo, delínques, delínque, delínquem; delínqua, delínquas, delínquam.




b.se forem pronunciadas com u tônico, essas formas deixam de ser acentuadas.




Exemplos (a vogal sublinhada é tônica, isto é, deve ser pronunciada mais fortemente que as outras):




verbo enxaguar: enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues, enxaguem.




verbo delinquir: delinquo, delinques, delinque, delinquem; delinqua, delinquas, delinquam.




Atenção: no Brasil, a pronúncia mais corrente é a primeira, aquela com a e i tônicos.










Uso do hífen com compostos




1. Usa-se o hífen nas palavras compostas que não apresentam elementos de ligação. Exemplos: guarda-chuva, arco-íris, boa-fé, segunda-feira, mesa-redonda, vaga-lume, joão-ninguém, porta-malas, porta-bandeira, pão-duro, bate-boca.










*Exceções: Não se usa o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição, como




girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, paraquedismo.










2. Usa-se o hífen em compostos que têm palavras iguais ou quase iguais, sem elementos de ligação. Exemplos: reco-reco, blá-blá-blá, zum-zum, tico-tico, tique-taque, cri-cri, glu-glu, rom-rom, pingue-pongue, zigue-zague, esconde-esconde, pega-pega, corre-corre.










3. Não se usa o hífen em compostos que apresentam elementos de ligação. Exemplos: pé de moleque, pé de vento, pai de todos, dia a dia, fim de semana, cor de vinho, ponto e vírgula, camisa de força, cara de pau, olho de sogra.










Incluem-se nesse caso os compostos de base oracional. Exemplos: maria vai com as outras, leva e traz, diz que diz que, deus me livre, deus nos acuda, cor de burro quando foge, bicho de sete cabeças, faz de conta.










* Exceções: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa.










4. Usa-se o hífen nos compostos entre cujos elementos há o emprego do apóstrofo. Exemplos: gota-d'água, pé-d'água.










5. Usa-se o hífen nas palavras compostas derivadas de topônimos (nomes próprios de lugares), com ou sem elementos de ligação. Exemplos:




Belo Horizonte - belo-horizontino










Porto Alegre - porto-alegrense










Mato Grosso do Sul - mato-grossense-do-sul










Rio Grande do Norte - rio-grandense-do-norte










África do Sul - sul-africano










6. Usa-se o hífen nos compostos que designam espécies animais e botânicas (nomes de plantas, flores, frutos, raízes, sementes), tenham ou não elementos de ligação. Exemplos: bem-te-vi, peixe-espada, peixe-do-paraíso, mico-leão-dourado, andorinha-da-serra, lebre-da-patagônia, erva-doce, ervilha-de-cheiro, pimenta-do-reino, peroba-do-campo, cravo-da-índia.










Obs.: não se usa o hífen, quando os compostos que designam espécies botânicas e zoológicas são empregados fora de seu sentido original. Observe a diferença de sentido entre os pares:




a) bico-de-papagaio (espécie de planta ornamental) - bico de papagaio (deformação nas vértebras).




b) olho-de-boi (espécie de peixe) - olho de boi (espécie de selo postal).Uso do hífen com prefixos










As observações a seguir referem-se ao uso do hífen em palavras formadas por prefixos (anti, super, ultra, sub etc.) ou por elementos que podem funcionar como prefixos (aero, agro, auto, eletro, geo, hidro, macro, micro, mini, multi, neo etc.).










Casos gerais










1. Usa-se o hífen diante de palavra iniciada por h. Exemplos:




anti-higiênico




anti-histórico




macro-história




mini-hotel




proto-história




sobre-humano




super-homem




ultra-humano










2. Usa-se o hífen se o prefixo terminar com a mesma letra com que se inicia a outra palavra. Exemplos:




micro-ondas




anti-inflacionário




sub-bibliotecário




inter-regional










3. Não se usa o hífen se o prefixo terminar com letra diferente daquela com que se inicia a outra palavra. Exemplos:




autoescola




antiaéreo




intermunicipal




supersônico




superinteressante




agroindustrial




aeroespacial




semicírculo










* Se o prefixo terminar por vogal e a outra palavra começar por r ou s, dobram-se essas letras. Exemplos:




minissaia




antirracismo




ultrassom




semirreta










Casos particulares










1. Com os prefixos sub e sob, usa-se o hífen também diante de palavra iniciada por r. Exemplos:




sub-região




sub-reitor




sub-regional




sob-roda










2. Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de palavra iniciada por m, n e vogal. Exemplos:




circum-murado




circum-navegação




pan-americano










3. Usa-se o hífen com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, vice. Exemplos:




além-mar




além-túmulo




aquém-mar




ex-aluno




ex-diretor




ex-hospedeiro




ex-prefeito




ex-presidente




pós-graduação




pré-história




pré-vestibular




pró-europeu




recém-casado




recém-nascido




sem-terra




vice-rei










4. O prefixo co junta-se com o segundo elemento, mesmo quando este se inicia por o ou h. Neste último caso, corta-se o h. Se a palavra seguinte começar com r ou s, dobram-se essas letras. Exemplos:




coobrigação




coedição




coeducar




cofundador




coabitação




coerdeiro




corréu




corresponsável




cosseno










5. Com os prefixos pre e re, não se usa o hífen, mesmo diante de palavras começadas por e. Exemplos:




preexistente




preelaborar




reescrever




reedição










6. Na formação de palavras com ab, ob e ad, usa-se o hífen diante de palavra começada por b, d ou r. Exemplos:




ad-digital




ad-renal




ob-rogar




ab-rogar










Outros casos do uso do hífen










1. Não se usa o hífen na formação de palavras com não e quase. Exemplos:




(acordo de) não agressão




(isto é um) quase delito










2. Com mal*, usa-se o hífen quando a palavra seguinte começar por vogal, h ou l. Exemplos:




mal-entendido




mal-estar




mal-humorado




mal-limpo










* Quando mal significa doença, usa-se o hífen se não houver elemento de ligação. Exemplo: mal-francês. Se houver elemento de ligação, escreve-se sem o hífen. Exemplos: mal de lázaro, mal de sete dias.










3. Usa-se o hífen com sufixos de origem tupi-guarani que representam formas adjetivas, como açu, guaçu, mirim. Exemplos:




capim-açu




amoré-guaçu




anajá-mirim










4. Usa-se o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares. Exemplos:




ponte Rio-Niterói




eixo Rio-São Paulo










5. Para clareza gráfica, se no final da linha a partição de uma palavra ou combinação de palavras coincidir com o hífen, ele deve ser repetido na linha seguinte. Exemplos:










Na cidade, conta-




-se que ele foi viajar.










O diretor foi receber os ex-




-alunos.










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