Chocolate é bom para a saúde
Coma chocolate
Delicie-se com as
descobertas científicas que revelam: o alimento protege o coração, ajuda a
prevenir o diabete tipo 2, reforça as defesas do corpo e ainda auxilia no
controle do apetite por
Fábio de Oliveira | design Robson Quinafélix | fotos Gustavo Arrais
Sua matéria-prima, o cacau, era considerada por
maias e astecas o alimento dos deuses. Tamanha veneração talvez tenha se
originado da dedução de que as sementes do fruto do cacaueiro escondiam
diversas propriedades. Se eram realmente divinas, isso ainda carece de
comprovação. No entanto, quase cinco séculos depois de os espanhóis
enriquecerem o paladar europeu com um dos sabores do Novo Mundo, sobram
evidências científicas de que o chocolate amargo, guloseima com um gosto
peculiar justamente por ter maior teor de cacau na sua composição, promove uma
série de benefícios para a nossa saúde.
Os resultados de uma das pesquisas mais recentes
sobre esse chocolate confirmam que ele protege o
coração. Realizado na Universidade Hospital Colônia,
na Alemanha, o estudo revela que seu consumo rotineiro reduz os níveis da
pressão arterial.O trabalho avaliou 44 pacientes entre 56 e 73 anos,
pré-hipertensos ou no estágio inicial do problema. Durante 18 semanas parte
deles consumiu 30 calorias diárias, ou 6,3 gramas de chocolate amargo, algo
equivalente a um único pedaço de uma barrinha. Os demais participantes
ingeriram o tipo branco.
Aqueles ínfimos 6,3 gramas da versão de gosto mais
acre derrubaram a pressão que o sangue exerce sobre os vasos a máxima, ou
sistólica, em 1,6 milímetros de mercúrio e a mínima, a diastólica, em 1
milímetro de mercúrio. Além disso, a prevalência da hipertensão problema que
acomete cerca de 1 bilhão de pessoas no globo e é responsável por milhares de
casos de infarto e derrame caiu de 86% para 68%.
A queda de cada 2 milímetros de mercúrio na medida
da pressão máxima já diminui bastante o risco de morrer de AVC ou do coração, assegura o cardiologista Marcus Bolívar
Malachias, da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
No estudo alemão, provou-se ainda que tudo isso pode se dar sem alterações no peso e nas
taxas de açúcar e gordura na circulação.
O segredo do chocolate amargo está na altísssima
concentração de certos flavonóides, como as catequinas, substâncias de nome
estranho encontradas no cacau. São elas que agem nas artérias, promovendo a queda da pressão. Esses
compostos elevam a produção de óxido nítrico, um vasodilatador natural, explica
Malachias, que é diretor do Instituto de
Hipertensão Arterial de Minas Gerais, em Belo Horizonte. O
endotélio, a camada interna das artérias, fica mais flexível. Assim, o sangue
passa por ali gerando menos pressão, explica a nutricionista Vanderlí
Marchiori, colaboradora da Associação Paulista de Nutrição.
Para que isso ocorra é preciso que o consumo do
alimento seja diário. Bastam de 30 a 40 gramas, ou quatro quadradinhos daqueles
tabletes grandes, recomenda Vanderlí. Ela dá outra boa notícia: o chocolate
amargo não contribui para a subida do colesterol. Os polifenóis
impedem a oxidação do LDL, o tipo ruim da gordura, explica. Eles seqüestram
essa molécula, formando um complexo solúvel que é eliminado pela urina.
Uma pesquisa japonesa publicada no periódico
americano Nutrition investigou o papel da procianidina,
outro componente do chocolate amargo, no controle do diabete tipo 2. Roedores obesos e com o mal consumiram uma
beberagem de cacau rica na substância. Passado um tempo, os níveis de açúcar no
sangue dos bichos caíram. Segundo os pesquisadores, isso pode ter ocorrido
porque as tais procianidinas melhorariam a eficiência da insulina, o hormônio
que bota a glicose dentro das células.
"Esse tipo de suplementação preveniu o diabete em camundongos obesos", afirma à
SAÚDE! Hirohisa Takano, um dos autores do trabalho. Pesquisas com o chocolate
amargo cheio de flavonóides mostraram que a ingestão de 100 gramas diários
poderia garantir o mesmo benefício aos humanos, algo que ainda requer mais
evidências. Portanto, se você é diabético, é cedo para sair se empanturrando.
Na Espanha, uma pesquisa realizada na Universidade de
Barcelona também focou sua mira nos flavonóides do cacau, mas dessa vez com o objetivo de
avaliar sua ação no sistema imune de ratos jovens, principalmente em células do
batalhão das defesas, como os linfócitos e os macrófagos. Os animais receberam
uma dieta enriquecida com o alimento durante três semanas. Depois os
especialistas chegaram à conclusão de que houve um aumento na atividade de
certas áreas envolvidas com a imunidade.
Isso se verificou com maior intensidade no timo,
órgão situado no tórax e responsável pela maturação dos linfócitos T, nossos
guardiões contra vírus e bactérias. "Descobrimos também que o cacau
protege os neurônios dos efeitos dos radicais livres", conta à SAÚDE! Emma
Ramiro, líder do estudo. Mas e o chocolate com isso? Ele é feito com massa de
cacau, onde se encontram os flavonóides do fruto, explica a pesquisadora. E
repete o que todos os estudos já apontam: Dentre todos os tipos, o chocolate amargo é o que mais contém esse
tipo de composto. Assim, ele é o único que pode ter um bom impacto na saúde.
Além de não deixar o organismo fraco e vulnerável,
o alimento mantém o humor da gente em alta. Ele possui duas
substâncias cujos nomes são uns verdadeiros palavrões: N-oleoletanolamina e N-linoleoiletanolamina.
A dupla estabiliza as anandamidas, uma espécie de maconha produzida pelo nosso
próprio cérebro. Isso faz com que a sensação de bem-estar proporcionada por
elas dure mais tempo, explica Vanderlí Marchiori.
Sem falar na fenilalanina e na tirosina, dois
aminoácidos que são precursores da noradrenalina e da dopamina, outra
dobradinha envolvida no estado de felicidade natural. Quer
motivo melhor para curtir esse sabor amargo? Bom apetite!
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